MULHERES

Quem sonha em construir um mundo melhor que o nosso, não peça conselho aos homens, mas abra coração e ouvidos unicamente às mulheres, apenas a elas, sem excluir nenhuma.

Que todas as mulheres sejam ouvidas: a que está na sala de aula, ou dirige uma vã no trânsito tumultuado da grande cidade. Ouça também a mãe   que alimenta o filho, enquanto se prepara para voltar ao trabalho.

Fale com a enfermeira que deixou seu plantão noturno, com a balconista do supermercado, com a atriz de teatro ou a senhora que faz trabalho voluntário numa creche distante.

Precisam ser ouvidas as professoras, sempre tão sonhadoras, mas hoje tão angustiadas pelos ataques permanentes sofridos pela educação  em países como o nosso.

Para construir esse mundo  novo, é necessário que sejam ouvidas as anônimas trabalhadoras que plantam arroz nos campos do Vietnã e as que colhem frutas em fazendas chilenas.

Converse, na África, com aquelas que, há anos, resistem às guerras tribais estimuladas pelos interesses do imperialismo, inclusive as que vivem a vida triste nos campos de refugiados.

Fale com a moça que passeia glamourosamente por alguma rua de Paris, ou , como imigrante clandestina, se esconde dos olhos da polícia italiana.

E preciso ouvir todas, inclusive as mulheres que colhem castanhas na Amazônia ou as que dançam frevo no carnaval de Recife, as que escrevem poesia ou elaboram sofisticadas teses na academia.

Quem quiser mesmo construir um mundo novo, precisa ouvir as mulheres duramente discriminadas no Afeganistão e qualquer outro lugar onde o peso da mão masculina oprime sem receios

Muito tem a dizer as mães e avós da Praça de Maio, na Argentina, e as mães, esposas, irmãs e filhas de desaparecidos políticos brasileiros e de todos os lutadores que pelo mundo inteiro enfrentaram e ainda enfrentam ditaduras sanguinárias.

Não podem ficar caladas e anônimas aquelas que estão nas fábricas e campos ouvindo ordens de produção cada vez mais estressantes.

Que na feitura de um mundo novo, a experiência da mulher seja mil vezes mais considerada que qualquer palavra ou conceito emitidos pelo homem pois é ela quem dá a vida e com imensa ternura a sustenta.

As mulheres, os fatos provam, têm nada ou pouco a ver com a monstruosa história que criamos. Não foram elas as inventoras da terrível lógica do “olho por olho dente por dente” e nem, em nome dos interesses escusos do capital, forjaram inimigos artificiais para depois inventar guerras e dominações sobre povos.

Não foram elas que inventaram e jogaram bombas atômicas sobre o Hiroshima e Nagasaki, e nenhuma comandou tropas e deu ordens de extermínio nas duas grandes guerras mundiais.

Elas não inventaram mísseis, granadas, fuzis, minas terrestres ou armas de destruição em massa e nem campos de concentração. Não foram elas as criadoras do Tribunal da Inquisição onde, em nome de Deus, muitos morreram sob tortura e queimados em fogueiras públicas.

Elas não estiveram à frente do extermínio de populações indígenas e não sujaram as mãos no tráfico que escravizou e vendeu milhões de seres humanos da África para as Américas.

As mulheres jamais criaram formulas e meios que desinventaram a vida. Portanto, quem sonha criar um  mundo novo ou ao menos humanizar o que temos, necessita aprender a ouvir e viver atento aos sonhos e gestos da mulher.

Autor Convidado: Silvio Prado


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