FINALMENTE, UM ANO NOVO

Que esse ano novo
Seja novo de verdade
E seja também livre da estreiteza
E prisão dos calendários.

Que seja repleto de ventos novos
Criando tempestades impossíveis
Varrendo assim da face da terra
E da fisionomia dos homens
O medo de viver sua humanidade plenamente.

Que no correr desse ano, nenhum tiro seja dado
E as guerras sejam desinventadas. Que a fome não festeje
Sua vitória no rosto sem vida dos indefesos. Que toda criança
Possa se deliciar com as letras das histórias mais humanas
E sempre tenha diariamente o abraço do pai
E o beijo noturno da mãe.

Seja sempre novo esse ano que começa. E o que for plantado no campo
Não ande quilômetros inúteis para ir até mesa de quem plantou.

Que toda escola tenha educação e todo hospital, em nome da medicina,
Cancele seu desejo de ter lucros.

Que esse ano novo
Seja suficientemente novo
E uma de suas  novidades seja o profundo senso de justiça
Que brotará até nas pedras das ruas mais desertas.

E sendo novo como nenhum outro ano foi,
Que os operários tomem para si todas as fábricas
E façam banquetes de felicidade
Em toda linha de produção.

Que, das fazendas, as cercas sejam arrancadas e toda terra seja livre
Para o trabalho necessário e o fruto até agora impossível.

Sendo tão originalmente novo esse ano,
Que nas igrejas, Deus, finalmente, seja recebido
E compartilhado no altar principal.

No correr de seus dias
Que ninguém se espante de ouvir crianças
Se deliciando com Mozart ou afinando sua alma
Para as notas irretocáveis de Milton Nascimento
Ou resgatando  sonoridades perdidas.

Que ninguém acredite que seja truque de cinema
A água que correrá limpa em todos os rios e nem artifício de algum demônio
O riso incomparável de um índio caminhando nu pela imensa floresta renascida.

Que Jesus e Marx, dialogando com os melhores sonhos do homem, estejam em todas as estantes e salas de leitura.

Enfim, que esse ano não termine nunca e seja eterno como o fogo incontrolável das caricias antes proibidas ou infinito como a memória do primeiro beijo.

Que ele não termine nunca pois não  pode ter fim toda visão de felicidade construída pela mão e pelos sonhos mais humanos.

Feliz 2012 para todos

A felicidade da espécie humana depende dos que ainda sonham e lutam por justiça. Que continuemos sonhando e lutando por justiça!

Autor Convidado: Silvio Prado

Nenhum comentário: